terça-feira, 10 de maio de 2011

A Economia do Reino

EconomiaNinguém quer ser pobre, mas há de empobrecer para fazer-se participante das riquezas do reino de Deus. Nosso tempo grita em alto e bom som: Seja rico! Os amigos, as propagandas, os jornais, as igrejas nos dizem em corô: Seja rico! Busque ter tudo o que lhe pode fazer feliz, consuma, deseje ter mais do que pode comprar.

Nosso tempo é marcado pela capacidade particular de passear entre as classes sem necessariamente ter nascido em qualquer uma delas. Explico. Durante certo tempo das história, só era nobre quem nascia entre a nobreza. Com o passar do tempo, era nobre quem adquiria terras. Hoje, é nobre quem está no topo da escala de consumo!

Todos compomos uma nova classe, somos os chamados consumidores, queremos mais, desejamos as novidades. O mercado competitivo apresenta bimestralmente novos itens para consumo, e nós não podemos nos conformar com o mesmo, queremos mais, sempre mais.

É no querer mais que iniciamos nossa tentativa de construir uma ponte entre o que Jesus diz e o que nosso mercado diz. Na economia humana queremos subir mais, alcançar mais, ser mais, enriquecer mais do produto do mercado. Da tecnologia que nos é apresentada, das posses, dos carros, do que nos dá status, poder, prestígio.

Na economia de Deus queremos subir mais, alcançar mais, ser mais, enriquecer mais do que alimenta nosso espírito. Não queremos satisfazer o desejo de status do corpo, mas satisfazer uma necessidade do espírito. Digo status do corpo porque o que busco satisfazer me parece mais um insignificante momento de prazer. O prazer de ter sem precisar. Digo necessidade do espírito porque satisfaço uma necessidade do ser, que encontra somente Deus o que lhe completa, o que é parte de si.

É como um quebra-cabeça de muitas peças espalhadas pelo chão. Uma a uma colocadas em seu lugar, encaixada a outras peças, vão se conectando e dando forma a um belo quadro final. Deixe faltar uma peça, e o quadro se tornará imperfeito, incompleto, sem graça.

Agora, lemos no evangelho de Mateus, Jesus apresentando-nos o quadro da verdadeira felicidade: Felizes são aqueles que percebem que precisam de uma última peça para tornar-se um quadro completo, perfeito. Vejo-o me chamando a perceber em mim mesmo a falta de uma peça essencial, de uma engrenagem que faz funcionar o relógio, de um pixel que completa a imagem (desculpe, não contive minha NERDice). Vou explicar. Pixel é o menor elemento num dispositivo de exibição, ao qual é possivel atribuir-se uma cor. É do conjunto de milhares de pixels que nasce uma imagem de TV ou Monitor de computador por exemplo. Ou seja, um ponto minúsculo que não pode faltar para a criação de uma imagem perfeita e nítida.

Em outras palavras, podemos ouvir Jesus dizendo que felizes são os que precisam dEle. Felizes são os que veem nEle a peça que completa sua existência. O reino de Deus pertence à esses. É em sua necessidade que encontram riqueza. É no empobrecer do espírito que se encontra as riquezas do reino de Deus.

Obviamente que para um entendimento mais apurado do texto, seria interessante uma trabalho mais apurado de interpretação da expressão grega: makárioi hói ptochòi tô pnéumati” (Abençoados os pobres [em, no, ao, para] o espírito). Contudo, tratando-se de uma reflexão, ficamos com a tradução mais utilizada por alguns exegetas como Matthew Henry, Calvino e Daniel Wallace que compreenderam as palavras de Mateus como “pobres em espírito” como uma alusão ao reconhecimento da necessidade de Deus. O que a maioria de comentaristas divergem entre si, é a respeito da motivação desse esvaziamento. Enquanto alguns como Henry defendem uma idéia de santificação (humildes em espírito), Calvino interpreta que tratam-se de pobres em espírito, aqueles que passam por adversidades e se submetem a Deus como meio de encontrarem abrigo e proteção. 

Nos textos dos comentaristas temos a mesma idéia: Pobres em espírito, pessoas que precisam de Deus. Daniel Wallace concorda ao interpretar o texto grego como espiritualmente pobres. Uma compreensão real de que a riqueza do reino de Deus é Cristo, que preenche a alma com Sua Graça e virtude. Vale citar as belas palavras de Matthew Henry: "Essa pobreza de espírito é uma disposição de alma graciosa, pela qual somos esvaziados de nós mesmos, a fim de sermos cheios de Jesus Cristo"

Ser pobre de espírito é reconhecer Jesus Cristo como peça essencial no tabuleiro de quebra-cabeças da vida. Não é tê-lo como uma muleta pra viver melhor, é tê-lo uma realidade sem a qual a vida não tem o menor sentido. E não pensemos que não há benefícios em adotar este padrão de vida. O lucro deste investimento é: "porque deles é o reino dos céus". Que belo paradoxo! Os que se fazem empobrecidos são contemplados com um reino, o reino de Deus. Parafraseando Mateus: "Felizes são os espiritualmente pobres, porque terão um reino para si. O reino dos céus". A economia do reino de Deus não segue o fluxo de nossa economia humana, não saímos de um estado de riqueza para um estado de riqueza maior. É necessário que todos desçam a um estado de pobreza, pobreza de espírito. Em outras palavras, é no estado de pobreza de espírito que somos reconhecidos como ricos. 

Essa palavra pobreza não soa muito bem para nossos ouvidos capitalistas. Parece um texto "miserável". Mas quando o inserimos no contexto de Cristo ser pobre em espírito soa muito bem. Soa como cidadãos do reino de Deus. Nossa necessidade de Cristo, de Suas palavras, de Sua vida nos faz alcançar um status e prestígio grandioso como dignos do reino dos céus. Se nosso riqueza se resume a uma felicidade temporária, passaremos toda a nossa vida buscando consumir mais e mais aqui na terra. Contudo, se nossa riqueza se resume a uma felicidade eterna então desejemos mais e mais de Cristo, como pobres em espírito, ansiando por aqui que ele nos promete, vida em abundância: "[...] eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância." (Jo. 10.10b).

Sem dúvida não há maior lucro do que esse. E Esta é a economia do reino: Tonar-se pobre em espírito para apropriar-se da riqueza do reino dos céus: Vida em abundância.

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