quarta-feira, 23 de junho de 2010

Por que não a vida? - Parte 1

Data: 23/06/2010
Autor: Leonardo Felicissimo

"Todos os dias que Adão viveu foram novecentos e trinta anos; e morreu." (Gn. 5.5)

De todos os sentimentos que possam afrontar o ser humano, o pior deles é a fragilidade quanto à morte. Podemos dizer que a morte é primária de uma série de sentimentos. A morte produz tristeza, dor, humilhação, solidão. Possui poder para expor ao ser humano sua fragilidade, sua pequenez. Retira do ser humano o sentimento de auto-suficiência, de absolutismo. Não estou querendo abordar nenhum tipo de filosofia estóica. Não compartilho a idéia de que a morte seja uma solução para um ser aprisionado, todavia, acredito que o fato de ter o conhecimento ao seu respeito seja de grande valia para que o homem tenha percepção de sua natureza.

O que aprendemos em Gn. 5?

Naturalmente estamos acostumados enxergar apenas o relato da genealogia quando na realidade um detalhe passa despercebido de nossa visão, a Bíblia diz: morreu... Pode-se inferir que o autor propositalmente decidiu relatar que após muitos anos de vida, dada personagem listado enfrentou a morte. Considerando que:
  • A = nome do personagem bíblico
  • B = tempo de vida
O padrão que encontramos nos textos é: "E foram todos os dias que A viveu, B, e morreu", este acontecimento ocorre com vários personagens. Qual seria a importância de relatar a longevidade do homem nesta passagem? Unicamente para demonstrar que homem (outrora não conhecedor da morte), deveria então experimentá-la ainda que tivesse qualquer esperança de manter-se em vida.

Por mais extensa que fosse a vida natural do homem ele haveria de enfrentar a conseqüência de seu ato pecaminoso. Este ensinamento é proferido pelo Apostolo Paulo ao dizer que "o salário do pecado é a morte" (Rm. 6.23). A morte é a triste recompensa do homem por sua rebeldia e desobediência a Deus. Quantos são aqueles que ainda que digam não se importar com a morte reconhecem o triste pesar que ela traz! Ninguém gosta de falar sobre a morte, de estar próximo a ela e ninguém deseja encontrá-la.

Por quê? Simplesmente porque nos importamos com a vida! Queremos longevidade, ver nossos descendentes, filhos, netos, cumprir planos, realizar sonhos, aproveitar a vida, gozar a companhia do cônjuge. A vida proporciona oportunidades, a morte declara o ponto final. Ainda que a vida material não seja tão boa, pode-se a cada dia renovar-se a esperança.

A esperança é evidente no texto de Gênesis 5. Após sete relatos de morte, um relato altera o padrão da história. A história de Enoque produz esperança e demonstra que mesmo em tempos tão antigos algo já estava estabelecido. A vida é garantida quando se cumpre a justiça de Deus. Adão e Eva com sua atitude demonstraram independência de Deus, a história de Enoque parece apresentar que este homem possuía um testemunho completamente oposto aos de seus familiares e contemporâneos.

Diz a Bíblia "Andou Enoque com Deus". C. H. Mackintosh diz que o andar com Deus nos tempos de Enoque haveria de significar renuncia. Numa sociedade que se degradava sempre mais, andar com Deus significaria abrir mão de andar com os outros. Era voltar-se exclusivamente para Deus e gozar de dependência e comunhão com Ele[1].

Ah! Como nos precisamos aprender sobre isto. O escape para a morte não esta em evoluir como espírito através de uma troca de corpos, não está em virar adubo de terra como se de nada valesse a vida atual. O escape para a morte está em andar com Deus.

Notas Bibliográficas
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[1] MACKINTOSH, C. H., Estudos sobre o livro de Gênesis. 3ª Edição, Diadema: Associação Religiosa Imprensa da Fé, 2001.

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