segunda-feira, 21 de março de 2011

Ouvir mais, falar menos – O próximo

“Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1.19)

Há momentos que falamos tanto que não podemos ouvir o chorar do próximo por uma necessidade que podemos atender. Há momentos que falamos tanto do evangelho que não nos permitimos ouvir mais o que os outros tem a dizer de si.

Tiago ao redigir sua epístola após argumentar sobre o tema Deus x Tentação, dirige a atenção de seus leitores para um ensino especial: A importância de ouvir. Existem dois motivos possíveis para Tiago haver escrito sobre tal tema.

  1. Os rumores sobre certas discussões sem fim proveitoso onde seus participantes expunham seus argumentos, todos ao mesmo tempo desrespeitando uns aos outros, partindo em certo ponto à ira.
  2. Tiago simplesmente desejou escrever sobre a importância de se falar menos e ouvir mais.

Não há qualquer impedimento aparente que não nos permita a união de ambos motivos para formação desta reflexão, compreendendo assim que, Tiago estaria admoestando os irmãos (judeus) dispersos com relação à suas discussões, assim como estava ensinando uma lição a estes sobre ouvir e falar.

A) Sejam prontos para ouvir… O próximo

O texto original apresenta: “ταχὺς εἰς τὸ ἀκοῡσαι”. Rápido para ouvir, poderíamos entender como “dar importância ao ato de ouvir”.

Uma discussão onde todos falam ao mesmo tempo não pode ser considerada proveitosa. A capacidade de ouvir o outro demonstra a humildade e o coração disposto à aprender. Não se pode aprender sem que se preste atenção na argumentação realizada pelo outro.

Quando lemos esse versículo temos o costume de pensar que estar pronto para ouvir é “ouvir Deus”, “deixar-se ser instruído pela voz de Deus”, “ser guiado pela palavra do Senhor” e etc. Todavia, a instrução de Tiago não se trata de uma instrução para nos alertar a ouvir “mais” a Deus, mas também de uma instrução que nos dirija a ouvir mais nosso próximo. E o próximo, entenda-se não apenas por aquele que compartilha o mesmo grupo religioso ou mesmo sistema teológico, mas aquele que pensa de maneira contrária, aquele que não tem sistema, aquele que é de outro grupo religioso, aquele que também precisa ser ouvido.

O grande motivo de nosso evangelismo não estar fazendo tanta diferença em algumas comunidades não é simplesmente porque o amor de muitos está se esfriando, mas também, porque a sociedade quer falar mais, quer perguntar mais, quer expor mais o seu pensamento e queremos sempre falar mais e ouvir menos.

Queremos propagandear mais nossa fé, queremos apresentar mais nossas teorias e queremos ouvir menos o que os outros tem a dizer sobre si! Nosso evangelismo não funciona quando paramos de ouvir os demais e não damos ouvidos para suas dúvidas, seus dilemas, suas necessidades, suas argumentações.

Não vemos em Cristo a postura que temos de enfiar “goela abaixo” nossos argumentos calvinistas, arminianistas ou relacionais sobre as tragédias da vida. Vemos um Cristo que ouve a afliação dos pobres, um Cristo que ouve a argumentação dos fariseus, ouve as heresias dos saduceus, ouve a tentação do diabo, ouve o choro dos necessitados e responde com palavras que quebram paradigmas.

Somos tardios em ouvir. E o conselho de Tiago continua importante para nossos dias. Antes de falar o que queremos falar, precisamos saber ouvir o que o próximo tem a dizer. Até porque é somente através do que ouvimos do outro que podemos construir uma argumentação relevante e transformadora.

Jesus, sempre deu ouvidos às argumentações dos fariseus, mas, vemos claramente que sua contra-argumentação (realizada logo em seguida) era capaz de produzir reflexão e em certos casos transformação autêntica. Contudo, todo o processo teve sua origem no ouvir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário